Com as chuvas de janeiro, o nível dos lagos de usinas do Sudeste e Centro-Oeste (SE/CO) subiu para 24% na semana passada. A alta é de seis pontos desde o fim de novembro, mas o subsistema ainda está em nível mais baixo do que no ano do racionamento, 2001. Janeiro será mais chuvoso que a média, diz o Operador Nacional do Sistema Elétrico. Mas especialistas acham que não será o suficiente para recuperar os reservatórios, que precisam chegar a maio com, no mínimo, algo em torno de 45% da capacidade. Abaixo disso, será preciso ligar as térmicas mais caras e poluentes do sistema, o que acabará elevando a tarifa.
Em 2001, os reservatórios estavam com 30% da capacidade nesta época do ano. É verdade que há mais segurança atualmente no sistema, que conta com mais usinas térmicas. Um apagão também é menos provável hoje porque a economia encolheu nos últimos anos. Mas o fato é que o subsistema SE/CO, que concentra 70% dos reservatórios do país, não se recuperou até agora do forte esvaziamento operador pelo governo Dilma, quando o nível despencou para 15%.
O ONS estima que choverá 5% a mais que a média, em janeiro. E a Aneel, a agência de energia elétrica, decretou a bandeira verde no mês. Ou seja, reduziu o número de térmicas ligadas e retirou a cobrança extra na tarifa. Para Adriano Pires, da consultoria CBIE, o sinal é equivocado.
O nível dos reservatórios está baixo. Mas, como chove mais forte neste mês, a bandeira parou de indicar o problema. Do jeito que está, o modelo depende muito do clima diz Pires. Para ele, as térmicas mais baratas, de até R$ 180 kWh, deveriam ser ligadas ao sistema, inclusive na época de chuvas, para que os reservatórios se recuperem. Evitaria que, durante a seca, as usinas mais sujas e caras tivessem que ser ligadas. A matriz energética mudou e a forma de calcular o preço tem que acompanhar isso. De acordo com ele, a fonte hidrelétrica, que representava 90% da geração no país, hoje equivale a 70% da capacidade instalada.
A perspectiva sobre os reservatórios tampouco deixa otimista a Walter Fróes, diretor da comercializadora de energia CMU. Ele lembra que previsão de chuva não é garantia. Em setembro, outubro e novembro, o regime foi pior que o esperado. A previsão dele é que, ao final do período chuvoso, o nível dos reservatórios do SE/CO chegará a até 50%. No ano passado, estava em 43% em maio. O ideal, no entanto, é algo próximo a 70%.
O país não recuperou seus reservatórios, mesmo após dois anos de forte recessão. Para Fróes, no entanto, mesmo se a economia crescer 3% neste ano não haverá risco de abastecimento de energia. As térmicas são capazes de suportar a demanda maior. O que acontecerá, neste caso, é um aumento no custo da eletricidade. A conta, como sempre, ficaria com o consumidor.
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