As exigências do mercado de capitais para o combate às emissões de gás carbônico e a trajetória de redução de custos de equipamentos formam um ambiente promissor para a fonte solar fotovoltaica. Os investimentos na indústria de geração de energia solar brasileira podem superar R$ 160 bilhões nos próximos dez anos, de acordo com projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
No fim de junho, representantes da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) se reuniram com o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida. No encontro, ouviram dele que é oportuno incluir a fonte solar no leilão de geração de energia nova A-6, marcado para 16 de setembro, assim como incluir fontes renováveis e armazenamento de energia no leilão de reserva de capacidade, previsto para o fim do ano. Além disso, houve a sinalização de que a geração distribuída (GD) possa ser contemplada com debêntures de infraestrutura incentivada e sobre a possibilidade de um marco legal para o armazenamento de de energia no leilão de reserva de capacidade, previsto para o fim do ano. Além disso, houve a sinalização de que a geração distribuída (GD) possa ser contemplada com debêntures de infraestrutura incentivada e sobre a possibilidade de um marco legal para o armazenamento de energia. Neste sentido, o governo publicou esta semana decreto que permite operações de comércio exterior de lítio, matéria prima de baterias elétricas.
No Brasil, o cenário é favorável não só para a GD, cujo marco legal foi aprovado no início deste ano, mas também para a produção de energia solar centralizada. De acordo com dados do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2031, elaborado pela EPE, a capacidade instalada da fonte solar centralizada no país deve mais que dobrar dos atuais 4,4 gigawatts (GW) para 10,4 GW no fim desta década.
Diversidade geográfica
Assim como ocorre com a fonte eólica, a geração solar tem ganhado espaço tanto no mercado regulado, por meio dos leilões, quanto no ambiente livre, em contratos negociados diretamente com grandes consumidores de energia e autoprodutores. No caso da fonte solar, porém, uma vantagem é que a tecnologia tem potencial maior de diversidade geográfica, enquanto a eólica fica restrita às “jazidas de vento”, principalmente no interior e no litoral nordestinos.
“Se existe conexão, é possível construir uma usina solar”, comenta Ricardo Barros, country manager da Lightsource bp no Brasil. Segundo ele, a empresa tem “nome e sobrenome”, por ser uma joint venture entre Lightsource e a gigante energética britânica BP. Com atuação em 19 países, a companhia tem planos de alcançar globalmente 25 GW de capacidade instalada.
No Brasil, a empresa possui um portfólio de 4 GW de fonte solar centralizada. Além disso, está implantando o parque solar de Milagres, de 210 megawatts-pico (MWp), em Abaiá (CE), com início de operação previsto para o início de 2024. Voltado integralmente para o mercado livre, o empreendimento tem investimentos previstos de R$ 800 milhões, com financiamento do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FNDE) e do Banco do Brasil.
A Lightsource bp já possui quatro contratos de suprimento de energia de longo prazo (PPA, na sigla em inglês) firmados para o parque. Um deles foi assinado com a Casa dos Ventos, desenvolvedora de projetos de energia renováveis. Com duração de dez anos, foi o primeiro PPA firmado pela Casa dos Ventos como compradora de energia.
Barros conta que, além da carteira de 4 GW de projetos, a Lightsource bp analisa oportunidades de aquisições de ativos no setor. “Vamos às compras de projetos mais maduros”, explicou o executivo, acrescentando que a empresa olha principalmente projetos que já possuem outorga e parecer de acesso ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Investimento chinês
Na mesma linha, a fabricante chinesa de módulos fotovoltaicos, veículos elétricos e baterias de lítio-ferro BYD está otimista com o potencial de crescimento de mercado no Brasil, considerado o principal país para investimentos do grupo fora da China, segundo Marcelo Taborda, diretor de vendas da BYD Brasil.
“O Brasil é o país que a BYD escolheu para fazer o maior investimento fora da China”, disse o executivo. Segundo ele, o plano da companhia é fazer do Brasil a base de suprimento para o mercado de fontes renováveis na América Latina. A região é considerada estratégica para a BYD, devido às grandes reservas de lítio, situadas na Bolívia e em parte da Argentina e Brasil. “Estamos muito próximos da fonte”, completou.
A área de negócios voltada à energia solar já responde por 50% do faturamento da empresa no Brasil. Segundo Taborda, a BYD Brasil tem 1,2 GW em projetos em andamento para a geração centralizada no país, em um modelo no qual a companhia terá participação acionária nos parques. No caso da GD, a companhia tem uma previsão de vendas da ordem de 1,1 GW em módulos até o fim de 2023.
A BYD possui três unidades fabris no Brasil, duas em Campinas (SP), onde produz caminhões elétricos e módulos fotovoltaicos e outra em Manaus (AM), com fabricação de baterias. Segundo Taborda, a companhia analisa oportunidades de instalar novas unidades no Brasil, nos três ramos de atuação: mobilidade elétrica, módulos fotovoltaicos e baterias.
Também na área de fornecedores, a mineira Concert Technologies, especializada em tecnologia e soluções principalmente para os setores elétrico e aeroespacial, tem participado de projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas áreas de armazenamento de energia e GD. Nesse segmento, a companhia tem desenvolvido sistema de gestão de recursos energéticos distribuídos e construção de usinas fotovoltaicas.
“Ter o domínio da tecnologia sempre foi muito importante para nós”, afirma Petrônio Spyer, diretor da Concert. A empresa tem longa trajetória no setor elétrico, que responde por 90% do faturamento da companhia, com destaque para soluções de automação e sistemas de supervisão e controle. A companhia, por exemplo, forneceu e presta suporte para o sistema de supervisão e controle do centro de operação de distribuição da Cemig, o maior da América Latina.
Geração distribuída
Na área de GD, o cenário também é muito favorável. De acordo com o PDE 2031, o segmento deve acrescentar 37 GW no sistema brasileiro nos próximos dez anos. Desse total, a fonte solar responderá por aproximadamente 93%.
No primeiro semestre deste ano, os investimentos em GD a energia solar aumentaram 41%, para R$ 59,5 bilhões, segundo levantamento feito pela distribuidora de equipamentos fotovoltaicos Elgin, com base em dados da Absolar. No mesmo período, a capacidade instalada de sistemas de geração própria de energia solar saltou 30%, para 11 GW, e o nível de empregos no setor cresceu 31%, para 330 mil vagas ocupadas.
“No último ano, a energia solar tornou-se um investimento bastante rentável e ajudou a aliviar o orçamento das famílias brasileiras, considerando que o Brasil viveu uma das maiores inflações energéticas da história”, disse Glauco Santos, diretor da divisão de energia solar da Elgin.
Walter Fróes, presidente da CMU Energia, comercializadora de energia e investidora em fonte solar, a redução dos custos da tecnologia e a estabilidade regulatória são os principais fatores para o crescimento da GD no país. “O marco da GD foi um grande avanço”, afirmou o executivo. “E existe um mérito enorme da Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica], que tentou levar os benefícios do mercado livre para a GD”.
A CMU alcançou a marca de 50 mil clientes em GD. A meta da companhia é chegar a 200 mil clientes até o fim deste ano. Em parceria, com a Solatio, a CMU está arrendando 70 novas usinas solares em Minas Gerais a serem entregues até o fim deste ano, elevando o parque gerador da empresa para 150 usinas, totalizando cerca de 150 megawatts (MW).
A expectativa da CMU é que a área de GD residencial e para pequenos negócios responda por 60% do faturamento da companhia até 2023.
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