Capacidade de transmissão poderia ser melhor organizada, segundo executivo
A CMU Comercializadora de Energia precisou desativar 15% da capacidade de geração de sua usina solar instalada no interior de Pernambuco em julho último. O empreendimento, construído para atender clientes do mercado livre, passou pelo processo de outorga, inclusive com a avaliação da capacidade do grid de transmissão em absorver a energia gerada.
Para Walter Fróes, diretor da CMU, o exemplo citado mostra que falta planejamento no ONS. Nesse momento, ele também destaca que há uma desinformação e não está claro se o acionamento do chamado curtailment acontece pela sobreoferta de energia renovável ou se pode haver também restrição na capacidade de transmissão do SIN. Ou ambas as situações.
O curtailment é acionado, regra geral, quando a geração excede a demanda, que é o caso da usina solar da CMU em Pernambuco.
Segundo Fróes, a possibilidade de acionamento da restrição é diária e os custos de não gerar estão sendo absorvidos pelos empreendedores. O executivo avalia, em conversa com seus pares, que a judicialização será inevitável para o ressarcimento do prejuízo.
Para reforçar o gap de planejamento, ele lembra que embora haja demanda de energia no Sudeste, fontes de geração no Nordeste estão sendo contidas pelo curtailment na geração solar e eólica instalada.
“Na hora de emitir uma outorga para uma planta solar ou eólica, a EPE não tinha que ver se tem mercado para absorver localmente ou se há capacidade de transmissão para outros mercados?”, questiona.
Fróes avalia que o planejamento mais preciso da capacidade de transmissão é mais problemático do que a sobreoferta atual. De acordo com ele, a avaliação anterior para conceder as outorgas poderia evitar o descompasso atual.
Outro desencontro envolve o risco de fornecimento. “Fala-se de risco de faltar energia na ponta em setembro. Será que vamos entrar em racionamento? E com uma sobreoferta de energia?, pergunta.
Ele acrescenta outro argumento que confirmaria a falta de planejamento, que é a volta da bandeira verde, num momento em que há queda do nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas. Para Fróes, não tem sentido ter falta de energia na ponta e a conta ficar mais barata.
Um exemplo de planejamento acertado, segundo ele, foi a planta solar de Janaúba (MG), com capacidade de 1,2 gigawatt-pico (GWp), empreendimento do qual a CMU participou. A usina foi interligada à uma subestação da Equatorial, com capacidade de folga para receber o que ele chama de “um caminhão de energia”.
“Tivemos o parecer de acesso na época, lembrando que o sistema de transmissão é como uma tubulação. Não basta ter o “registro” para abertura da água, precisa saber se o “cano”, grosseiramente falando, comporta o volume de energia que vai ser gerado”, finaliza.
A tempo: o ONS, em comunicação oficial na terça-feira (20), manifestou a necessidade de adoção de medidas adicionais preventivas em função de chuvas abaixo da média, e que não haveria qualquer problema de atendimento energético. O operador também reforçou que o SIN “dispõe de recursos suficientes para atender a demanda por energia”.
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