O outono chegou sem que os reservatórios das hidrelétricas brasileiras registrassem recuperação minimamente satisfatória para garantir o abastecimento do país abrindo mão do uso da energia gerada pelas termelétricas, que encarece as contas de luz. Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam que a reserva de água nos lagos das usinas do Sudeste e do Centro-Oeste, que respondem por 70% da energia elétrica gerada no país, estava em 48,9% ontem, um percentual 39% menor do que em março do ano passado. No Nordeste, a capacidade é 18,3% inferior à do ano anterior, no Norte 12,6% mais tímida, e no Sul ficou negativa em 3% na comparação entre os dois períodos.
Com isso, as termelétricas deverão ficar 100% despachadas pelo menos até outubro de 2013, quando se inicia novo período chuvoso, estima Flávio Neiva, presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage). Para Walter Froes, presidente da CMU Comercializadora de Energia, o período de uso das térmicas será maior e vai durar pelo menos até dezembro, quando começa o próximo verão. Isso é uma bomba-relógio, que vai explodir no reajuste das tarifas no ano que vem, avisa.
A situação poderá ser atenuada no caso de aumento das chuvas. Nesse caso, as termelétricas mais caras óleo combustível, óleo diesel e GNL poderão ser desligadas, reduzindo o impacto no bolso do consumidor. Em janeiro de 2008, o Brasil passou por situação semelhante devido ao atraso do período chuvoso entre aquele ano e o ano anterior. Naquele período, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que determina o valor do megawatt vendido no mercado spot, atingiu R$ 550 por MWh; hoje está em R$ 330. As térmicas foram despachas na base. Porém, a situação foi superada rapidamente pelas boas afluências de fevereiro de 2008.
A capacidade das térmicas despachadas pelo ONS é de 15.000MW, incluindo 2.000MW de usinas nucleares. De acordo com a Abrage, o custo mensal do despacho de todas térmicas é de R$ 2,5 bilhões. Mas a recente resolução do governo que determina o rateio do custo adicional entre todos os agentes e o decreto que transformou a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) num colchão para socorrer as distribuidoras de energia evitaram que grande parte desse custo fosse para o bolso dos consumidores atendidos pelas térmicas.
Esse alívio é de difícil avaliação. Porém, a medida impacta fortemente os agentes geradores de energia hidrelétrica, que, além de não serem responsáveis pelas térmicas despachadas fora da ordem de mérito e nem serem beneficiados por elas, não têm como repassar esse custo, observa Neiva. Não existe risco de racionamento no horizonte de curto e médio prazos, garante.
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