Cinco meses após severidade hídrica, mercado livre já está com preços mais próximos ao praticado antes da crise, cenário mostra-se mais controlado e com oportunidades de contratação
O ano de 2022 nem bem começou e parece que traz boas perspectivas para o setor elétrico, principalmente ao mercado livre. Com o elevado volume de chuvas que o país vem registrando os reservatórios estão respondendo bem e o volume em elevação. Em consequência desse fator, associado à sensibilidade dos modelos computacionais ao aumento das vazões, os valores da energia recuaram e, pelo menos por enquanto, deixaram a lembrança da crise hídrica para trás, abrindo oportunidades para compra de energia no ACL.
Cinco meses atrás o país discutia a criação da bandeira de escassez hídrica, estávamos com o PLD no teto, o CMO bateu R$ 3 mil por MWh em meados de agosto, programas de redução de demanda, entre outras medidas. Tudo isso porque o país atravessava a sua pior crise hídrica em 91 anos. Hoje agentes do mercado vislumbram valores bem abaixo desses patamares. Contratos da fonte convencional para o mês de janeiro estão saindo na faixa de R$ 68/MWh e para o ano estão cotados em R$ 160/MWh.
A fotografia do momento é de que o ano de 2022 deverá ser bem mais tranquilo quando comparado a 2021 com preços mais comportados. Apesar disso, a situação pode mudar, pois é necessário aguardar o final do período úmido. Segundo dados de preços de ofertas feitos na plataforma do Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia para o ano de 2023, apesar das incertezas, o valor está na ordem de R$ 210/MWh.
O diretor executivo da Ágora Comercializadora, José Sorge, avalia que o cenário atual está favorecendo o setor, pois as chuvas estão realmente caindo onde é necessário, no quadrilátero de Minas Gerais onde encontram-se a cabeceiras das maiores bacias do país. Entre elas, o Grande, Paranaíba e São Francisco.
“Esse é o momento de se aproveitar os preços que estão baixos. Quem precisa recompor seus contratos ou está migrando para o mercado livre vai encontrar preços bem inferiores quando comparados aos do ano passado”, indica ele.
Até porque, acrescenta, os níveis atuais, apesar de bem melhores do que se esperava não estão em um nível tão confortável assim. Pois se há uma parada repentina das vazões ou as chuvas caiam nos “locais errados” podemos ter problemas novamente. Para uma avaliação mais assertiva de como estarão os preços de energia no ano é necessário ver como terminará o período úmido, como é natural de ocorrer sempre que se trata desse tema.
O CEO da América Energia, Andrew Storfer, por sua vez lembra que 2022 é um ano “tipicamente atípico, pois temos eleições, e naturalmente nesses eventos há uma grande incerteza sobre os caminhos do país por uma possível mudança de governo e o consumo acaba não avançando como em anos sem eleições”, aponta.
Storfer vê este cenário de melhoria de afluências como uma oportunidade para que a discussão sobre os volumes operativos mínimos serem debatidos sem pressão por medidas mais imediatistas. Segundo ele, os extremos não servem de base para planejamento, uma vez que a conjuntura pode ser diferente de um cenário estrutural do país. Ao final a consequência pode ser o desperdício de água ao mesmo tempo em que se tem a energia cara. Apesar disso, considera que para o SIN verter água é necessário que tenhamos uma sequência de pelo menos três períodos úmidos fortes.
Em linhas gerais, diz o executivo, o ano de 2022 deverá ser mais confortável para o setor elétrico. Mas essa condição apenas no mercado livre, pois ressalta o fato de que o mercado regulado terá que pagar uma conta mais elevada em decorrência da crise hídrica de 2021, diferimentos autorizados no passado que começam a chegar à conta do ACR, além do IPCA de 2021 que passou dos 10% e compõem os índices de reajustes das distribuidoras.
Contudo, concorda que é necessário ainda esperarmos o final do período úmido para avaliar com mais certeza o cenário para o restante do ano. Tanto que um indicativo dessa incerteza pode ser vista na previsão de preços apenas para o segundo semestre. De acordo com a BBCE há ofertas de R$ 212/MWh.
“Em 2022 os preços já se acomodaram entendendo que esse ano será mais tranquilo, apesar de ser necessário esperarmos o final do período, dificilmente chegaremos ao mesmo incômodo do ano passado”, pondera Storfer. “Para 2023 é outra história, não dá para garantir como será”, disse ele.
Molhado e Seco
Esse elevado volume de chuvas, explicou o meteorologista Filipe Pungirum, da Climatempo, deve-se à conhecida Zona de Convergência do Atlântico Sul que ocorreu por várias vezes e influenciará esses volumes somente até o final da primeira quinzena de janeiro.
Ele explicou que para a segunda metade desse mês e em fevereiro os modelos utilizados mostram que o país terá menos volumes. Diferentemente do verificado nos últimos meses no submercado Sudeste/Centro-Oeste, quando a energia natural afluente esteve acima da média histórica, a previsão é de que fique a partir do mês que vem, em um patamar abaixo da MLT. Para janeiro, apesar da parada das chuvas o volume que já caiu será suficiente para manter a ENA acima da média histórica.
“Temos o resfriamento das águas equatoriais e esse fator reduz o volume de chuvas para o Norte e Nordeste também”, destaca. “Temos uma mudança de panorama e portanto, dias mais secos e temperaturas elevadas no Sudeste o país a partir da segunda metade de janeiro”, finalizou.
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