O risco de as geradoras optarem por especular no mercado à vista, onde são negociados contratos de curto prazo e os preços da energia estão em níveis recordes, pode frustrar o leilão de energia A-0, marcado para quarta-feira (30). O leilão tem como objetivo reduzir o impacto da alta da energia na conta de luz e no caixa das distribuidoras.
O governo quer que a energia que será leiloada, de fornecimento imediato e mais barata, substitua aquela que hoje essas empresas precisam comprar no mercado à vista, onde os valores alcançaram patamares históricos devido à queda no nível dos reservatórios das hidrelétricas. Porém, analistas do setor vêm com desconfiança o pregão, em função da disparidade de preços praticados.
O teto informado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para o leilão é de R$ 262 por megawatt-hora (MWh) de fonte hidráulica e de R$ 271 por MWh de fonte térmica.
Já no mercado spot, de curto prazo, a energia está cotada a R$ 822,83 por MWh, ou seja, três vezes o valor previsto para o leilão. Ainda assim, a expectativa no governo é de que as distribuidoras possam adquirir um total de 3.200 megawatts (MW).
A previsão é de que apenas 40% disso sejam oferecidos durante o leilão. Esses valores não estão atrativos. As distribuidoras não vão conseguir contratar toda a energia por meio de contratos de longo prazo, pois muitas geradoras vão preferir garantir a venda em preços mais altos no curto prazo do que a segurança da venda a longo prazo, diz o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), Rodrigo Aguiar.
Para atrair as usinas que têm sobra ao leilão, o governo está oferecendo contratos com vigência de cinco anos e sete meses. Um dos argumentos é de que o preço da energia no mercado à vista deve cair no futuro e, assim, as geradoras não devem lucrar com os valores exorbitantes por muito tempo.
Não é o que pensa o engenheiro Roberto Pereira DAraújo, fundador do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico (Ilumina) e ex-conselherio de Furnas. Acho pouco provável que as geradoras troquem uma rentabilidade enorme por uma três vezes menor, ainda mais em um cenário de térmicas ligadas e nenhuma previsão de que chova uma barbaridade. Provavelmente, só Petrobras e Eletrobras, que são mandadas pelo governo, farão ofertas, afirma.
22 de agosto de 2024
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