Para executivo, iniciativa poderia aumentar a estabilidade da rede, mas teria que ser costurada tecnicamente e não somente por iniciativa política

Walter Fróes, diretor da comercializadora CMU Energia (Divulgação)
Para Walter Fróes, diretor da comercializadora CMU Energia, o crescimento das renováveis na matriz elétrica não é infinito. Ele aposta, por exemplo, na possibilidade de as distribuidoras assumirem um papel de gestão da energia injetada pela mini e microgeração (MMGD) na rede como uma forma de manter o grid estável.
Em conversa com a Brasil Energia, o executivo lembrou que esse modelo tem exemplos em partes da Alemanha e está sendo estudado em países como Austrália.
A ideia de que as concessionárias “liguem e desliguem” a MMGD, no entanto, não deveria ser estruturada como uma medida provisória (MP), como acontece nesse momento com a reforma do setor elétrico, de quem Fróes é crítico contundente.
“É uma questão técnica, onde a distribuidora estabilizaria a rede por meio de elementos de controle. Quem não quiser estar no modelo, pode ficar offgrid”, argumenta. É o caso dos consumidores residenciais que têm placas solares e baterias para armazenar energia.
Ex vice-presidente da Abraceel, Fróes lembra ainda que o crescimento da geração solar – seja por meio de usinas solares centralizadas ou pelo MMGD – tem limitações de natureza operativa.
“A demanda de energia é uma consequência. Não tem que se montar usinas para manter a cadeia produtiva”, completa.
A abordagem técnica também deveria servir como exemplo para a proposta de reforma do setor elétrico como um todo. A atual MP – ainda desconhecida em sua íntegra – não teria condições de passar pelo crivo do legislativo, na avaliação do diretor da CMU.
“Temos um alarme soando alto, uma política demagógica e com aumento de subsídios”, resume o executivo. Para ele, os subsídios para ampliação de contas sociais podem superar os R$ 5 bilhões na chamada Conta de Desenvolvimento Energético, que tem orçamento previsto de R$ 40,5 bilhões para 2025.
Fróes destaca ainda que entre as propostas ventiladas na reforma estaria a revogação dos descontos nas tarifas de uso de rede para as fontes incentivadas.
Na avaliação do especialista, esse tipo de medida afetaria a estabilidade de contratos, uma vez que a revogação não envolveria as negociações registrados na CCEE, mas poderia afetar acordos com autoprodutores.
“Isso trouxe uma perturbação horrorosa no mercado e tirou todo mundo do foco”, resume. Para Fróes, como o segmento de autoprodutores envolve grandes consumidores eletrointensivos, os efeitos podem ser prejudiciais para boa parcela da indústria brasileira, caso das siderúrgicas e das produtoras de alumínio.
“As ações deveriam se concentrar em melhorar a estabilidade do mercado livre e simplificar a medição, entre outras”, avalia. “Pelo que se viu da minuta, ela não foi avaliada nem por quem tem entendimento jurídico e nem por quem conhece do setor elétrico”, finaliza.
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