Apesar de o País estar vivendo uma crise energética, com dificuldade de lastro e altas sucessivas nas contas de luz, o consumo residencial não segue tendência de queda como o industrial. Como grande parte da energia gerada é utilizada nas residências, a situação preocupa especialistas, uma vez que a oferta do insumo está cada vez menor.
Apenas em abril, a baixa na geração em todo o sistema interligado foi de 1,68% frente ao mesmo período de 2014, segundo dados divulgados na sexta-feira pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica ( CCEE).
A geração fechou o mês de abril em 60.604 megawatts médios(MW med), enquanto no mesmo mês de 2014 havia ficado em 61.642 MW med. Para maio, as projeções da própria instituição são de retração de 3,92% na oferta de energia, fechando em 58.226 MW med.
Em abril, a baixa do consumo no mercado cativo foi de apenas 0,45%. A redução reflete menor demanda por parte do setor industrial que representa 27% do consumo total, o que indica que a demanda residencial, que equivalente a 40% do consumo, segue em alta.
Como base de referência, no mercado livre, composto praticamente por indústrias, a queda foi bem superior, de 5,54%, ao passar de 158.783, em abril de 2014, para 14.956 em 2015.
Fatores – O diretor da CMU Comercializadora de Energia, Walter Luiz de Oliveira Fróes, explica que existem vários fatores que inibem a redução do consumo residencial de forma imediata. O primeiro deles é o próprio crescimento populacional. Mas a demora para sentir os impactos da crise energética no bolso também entram nessa equação.
“O sinal chega atrasado para o ambiente regulado. A falta de energia, que já era realidade no ano passado, só refletiu nas tarifas neste ano. Já no mercado livre, os preços subiam há muito tempo. Por isso, as industrias sabem a importância de economizar há mais tempo”, afirma.
Além disso, ele lembra que no ano passado o governo federal sinalizou por diversas vezes que não havia crise energética. Inclusive foram feitas promessas de redução das tarifas, fazendo com que a utilização da energia fosse estimulada.
“Antes de reduzir o consumo, deverá acontecer alta da inadimplência, ou melhor, cortes de energia. Só quando começarem a não dar conta de pagar a conta é que muitos consumidores vão começar a notar que existe um problema”, ressalta.
Para o consultor da LPS Consultoria Energética Fernando Umbria, a redução do consumo residencial é uma necessidade urgente. “O que barrou uma campanha mais forte no sentido de reduzir o consumo foi um forte componente político. Mas, como especialista do setor, minha preocupação real é se vamos chegar lá na frente com condições de atender a demanda. E esse lá na frente é um futuro bem próximo, coisa de um ano no máximo”, pondera.
Essa preocupação tem ligação com a chamada garantia física, ou seja, o potencial de geração energético do País. Em abril, ela foi quantificada em 69.046 MW med. Levando-se em conta que o consumo total no período foi de 60.557 MW med, a oferta total está apenas 12,2% superior à demanda.
O problema é que essa garantia física geralmente é superestimada por não levar em conta fatores externos. ” Quando uma usina é construída, existe a análise para se saber quanto é possível gerar de energia. Mas não entram nessa conta questões como paradas técnicas, vazões e até mesmo redução da frequência do vento, no caso das eólicas. Então é possível que a nossa situação esteja mais tensa do que o esperado”, alerta.
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