Cenário confirma o que vinha sendo apontado em março, quando níveis pararam de
subir e elevaram preços da energia no mercado livre
Apesar das chuvas que caíram no fim de semana em boa parte do país, os reservatórios das hidrelétricas não apresentaram recuperação expressiva. O cenário não é crítico, de acordo com especialistas, mas os sinais emitidos desde março indicam um quadro de menos chuvas do que o previsto e preços mais elevados. A estação de chuvas encerra-se em abril, quando começa o período seco.
Os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) relativos a domingo (6) mostram que o nível dos reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN) era de 69,5%, sem variação frente a sábado (5). No Sul do país, por sinal, os reservatórios estão abaixo de 40%, com queda acumulada de 0,4 pontos percentuais em abril [ver quadro a baixo].

Sem grandes aumentos nos níveis de armazenamento, o cenário confirma o que vinha sendo apontado em março, quando os reservatórios pararam de encher e fizeram com que os preços da energia disparassem no mercado livre.
Para Fred Menezes, diretor-executivo da Armor Energia, apesar de não ter sido suficiente para recuperar reservatórios, a chuva trouxe um alívio na queda da vazão dos rios, conhecida no setor como Energia Natural Afluente (ENA), que era acentuada desde a segunda semana de fevereiro, principalmente no Sudeste. “O período úmido começou de forma promissora, aliviando o setor elétrico, que enfrentava dificuldades, mas foi curto e terminou antes do previsto”, disse Menezes.
“Para que aumente o nível [dos reservatórios], é necessário que chova nos lugares certos, onde estão localizados os reservatórios ou os rios que os abastecem. Não foi o caso das chuvas desse fim de semana”, acrescentou Walter Fróes, presidente da comercializadora CMU Energia.
Em 2024, o país viveu uma das secas mais severas da série histórica do país em 83 anos. As chuvas vieram com o início do período úmido, em novembro, e as hidrelétricas voltaram a guardar mais água. Só que essas chuvas perduraram até janeiro, ficando mais escassas em fevereiro e março.
João Hackerott, presidente da empresa de meteorologia Tempo OK, salientou que abril marca a transição para o período seco. O Sudeste/Centro-Oeste terá retração das chuvas, que afetariam mais o Sul. O motivo, diz, é a neutralidade climática, sem efeito de fenômenos como El Niño e La Niña. Para Hackerott, a tendência é que as chuvas em abril sejam em torno da média, mas irregulares. “Isso significa que algumas áreas das bacias podem receber chuvas até significativas, mas outras nem tanto, e esse cenário não ajuda a aumentar o nível dos reservatórios.”
Se as chuvas não influíram significativamente nos reservatórios, os preços futuros da energia no mercado livre até registraram reduções na semana, devido ao maior volume de chuvas do fim de semana. Ainda assim, esses preços se mantêm em patamares elevados frente à média.
As chuvas e mudanças nos modelos matemáticos que calculam o preço da energia, entre outros fatores, geraram volatilidade e altas significativas nos contratos que passaram pela plataforma da BBCE, um dos principais ambientes de negociação de energia do setor elétrico. “O ano de 2025 tem se caracterizado por volatilidade de preços. Essa volatilidade trouxe, já no primeiro trimestre, oscilações significativas”, disse Eduardo Rossetti, diretor-executivo comercial, de produtos, comunicação externa e marketing da BBCE.
A curva futura de preços da consultoria Dcide indicava na quarta-feira (2) que os valores da energia variavam entre R$ 274,87 por megawatt-hora (MWh) e R$306,33/MWh, dependendo do contrato para fornecimento entre abril e junho deste ano. A Armor Energia projeta preços entre R$ 230/MWh e R$ 280/MWh para o segundo trimestre. E entre R$ 340/MWh e R$ 380/MWh no segundo semestre deste ano.
Fróes, da CMU, ressaltou que a bandeira verde acionada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é um gesto político que diverge do cenário real, de preços altos no mercado livre. Segundo ele, diante de um Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) acima de R$ 300/MWh, o ideal teria sido a adoção da bandeira amarela em abril.
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