O governo federal ainda dependerá das “águas de abril” para afastar completamente o risco de desabastecimento e energia no país. As primeiras estimativas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicam que os reservatórios do Sudeste e do CentroOeste vão encerrar o mês de março com 27,1% de sua capacidade máxima, quase seis pontos percentuais abaixo do mínimo para garantir, sem sobressaltos, a travessia do período de estiagem.
Na virada do ano, o próprio ONS havia apontado a necessidade de o estoque chegar a pelo menos 33% no fim de abril. De acordo com o diretor geral do órgão, Hermes Chipp, esse índice permitiria chegar ao início de novembro (quando costuma terminar o período seco) com um estoque acima de 10% Qualquer volume abaixo desse percentual coloca em risco o pleno funcionamento das turbinas de usinas hidrelétricas.
Levantamento feito pelo Valor mostra que em apenas um dos últimos cinco anos em 2013 houve um “ganho” de armazenamento superior a seis pontos percentuais nos reservatórios. Em dois anos, houve recuperação das represas, mas inferior a seis pontos. Em outros dois anos 2010 e 2012 ,o estoque de água caiu em abril.
Reservadamente, uma fonte do governo diz que a “meta” de 33% citada no início do ano precisa ser relativizada.
Para essa autoridade, o aumento das tarifas terá reflexos no consumo residencial, que tende a crescer bem menos do que o esperado. Além disso, a crise hídrica tem provocado uma mudança de hábitos, com chuveiros elétricos ligados por menos tempo.
Por fim, conforme sublinha o funcionário do governo, a indústria deve sofrer o baque do ajuste fiscal e registrar uma nova contração da demanda por energia. No ano passado, o consumo industrial encolheu cerca de 3%. Para essa fonte, um armazenamento em torno de 30% no Sudeste e no Centro Oeste seria suficiente para aguentar uma estiagem rigorosa até o fim deste ano. “Passamos mais um ano de sufoco, mas passamos”, afirma.
O presidente da comercializadora CMU Energia, Walter Fróes, avalia que há boas chances de fugir de um racionamento em 2015. “Mas a margem de manobra das autoridades está cada vez mais estreita. Agora, na melhor das hipóteses, vamos iniciar o período seco abaixo do que estávamos no ano passado”, afirma o especialista.
Em 2014, no fim de abril, os reservatórios chegaram a 38,8% de sua capacidade. Hoje estão com 20,8%.
Fróes acredita que evitar um racionamento, com corte de carga, não é necessariamente boa escolha. “
“Em algum momento, o governo precisa seguir as regras estabelecidas no setor”, diz o empresário, lembrando o chamado “custo do déficit”, segundo o qual fica mais razoável, do ponto de vista econômico, conrtar 5% da demanda quando o valor de geração da energia ultrapassa R$ 1.445 por megawatt/ hora.
Nesta semana, o custo de operação está em R$ 1.606,42 por megawatt/hora.
Na prática, isso significa que seria mais recomendado tomar medidas de restrição ao consumo do que continuar produzindo energia por um preço tão elevado. “Se a situação continuar assim, precisaremos de um corte na carga.”
De acordo com Alexandre Nascimento, meteorologista da Climatempo, a tendência é que a maior parte das chuvas fique concentrada na região Sul durante o mês de março. “Vamos ter chuvas próximas à normalidade, um pouco abaixo da média, em todo o Estado de São Paulo e em boa parte de Minas Gerais”, diz.
Nascimento considera “pontual” e uma espécie de “sorte” a recuperação do sistema Cantareira, onde as precipitações ficaram muito acima da média histórica, lembrando que o regime pluviométrico não foi tão positivo como em outras áreas do Sudeste.
Tudo indica, segundo o meteorologista, que a região deve entrar em um período de redução gradual das chuvas em torno do dia 10 de março. O importante, lembra nascimento é que nada disso compensou a seca inesperada de janeiro.
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