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São Francisco ajuda a salvar Sudeste, mas acende temor

Autor:
Daniel Rittner / Valor

Governo decide ‘queimar’ os reservatórios da bacia; comitê critica

O Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, que tem governos estaduais e usuários do rio entre seus integrantes, criticou duramente as mudanças de vazão nas usinas hidrelétricas do Velho Chico a fim de ampliar o fornecimento de energia do Nordeste para o subsistema Sudeste/Centro-Oeste.

Uma das ações tomadas nesta semana pelo Ministério de Minas e Energia, que acabou sendo ofuscada pelo aumento da bandeira tarifária e pelo bônus dado aos consumidores para uma redução voluntária da demanda, foi liberar mais água das usinas hidrelétricas no curso do São Francisco.

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Com isso, o objetivo do governo é gerar mais energia na região Nordeste e transferir esse excedente para o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, onde está a pior situação dos reservatórios no país.

Para o comitê, no entanto, essa estratégia pode trazer de volta a ameaça de colapso hídrico vivenciada pela bacia há poucos anos e colocar em risco a segurança no abastecimento de 2022 em diante.

O presidente do comitê, Anivaldo Miranda, encaminhou ofício à Agência Nacional de Águas (ANA) alegando “grande preocupação quanto à forma como vem sendo gerida a operação do sistema e o deplecionamento dos reservatórios da bacia”. Ele escreveu para a agência no dia 26 de agosto, após as primeiras mudanças de vazão, cobrando estudos mais aprofundados antes de novas alterações.

Na terça-feira, após reunião da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG), o ministério anunciou que a usina de Três Marias (MG) passará a liberar até 650 litros por segundo nos próximos três meses. Já a represa de Sobradinho (BA) terá uma defluência máxima de 1.500 litros por segundo em setembro, chegando a 2.500 litros em outubro e novembro.

Para ter uma ideia do que significam esses volumes: na década passada, em meio à seca que levou a bacia do São Francisco a uma situação dramática, a vazão foi reduzida para menos de 100 litros por segundo em Três Marias e apenas 550 litros por segundo em Sobradinho. Seus reservatórios atingiram uma marca, respectivamente, de 6% e 2% no auge da estiagem em 2017.

Foram anos de restrições no uso do rio – incluindo até proibição para captar água todas as quartas-feiras – com o objetivo de evitar o esvaziamento das represas e uma lenta recomposição do volume útil, principalmente em Sobradinho. Graças às chuvas de 2020, o reservatório se estabilizou acima de um nível de 50%.

Agora, diante da ameaça de racionamento, o governo resolveu virar pelo avesso a tática e maximizar a produção de energia nas usinas do Velho Chico. “Em pouco tempo, isso pode levar a bacia ao caos. É como se a calha do São Francisco estivesse sendo transportada de helicóptero para o Sudeste”, diz Anivaldo Miranda.

Nós, aqui, comemos o pão que o diabo amassou. Não queremos passar pelas mesmas restrições de uso novamente. Os reservatórios do São Francisco demoram anos para se recuperar. Basta um atraso relevante na volta das chuvas ou um período úmido muito abaixo da média que logo voltaremos a ter problemas graves.”

O especialista em recursos hídricos Leonardo Mitre entregou um parecer ao comitê no qual conclui que as autoridades do setor elétrico estão assumindo um “risco alto” ao permitir o aumento das vazões. Na avaliação dele, o governo deveria considerar cenários de chuvas inferiores à média histórica e o reservatório de Sobradinho poderá retornar a uma situação “bastante crítica” em dezembro.

Procurado, o Ministério de Minas e Energia não se pronunciou até a conclusão desta edição. A pasta divulgou ontem que a entrada em funcionamento das linhas de transmissão Bom Jesus da Lapa-Janaúba e Pirapora 2, na Bahia e em Minas Gerais, permitirão aumentar em 1.300 megawatts o escoamento de energia da região Nordeste ao subsistema Sudeste.

O Nordeste já tem produzido excedente de energia graças à geração recorde de energia eólica nesta época do ano – a chamada “safra de ventos”. Na terça-feira, ao informar sobre a mudança de vazão nas usinas do São Francisco, o ministério explicou que ela valerá até a represa de Sobradinho atingir 15% do volume útil. Ela está com 48% da capacidade máxima.

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