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Preços negociados no mercado livre de energia podem disparar

Autor:
Magali Simone, Diário do Comércio
A longa estiagem vai onerar as empresas, que terão de pagar a diferença entre a energia consumida e a contratada | Crédito: REUTERS/Ueslei Marcelino

Embora os preços ainda não tenham sido reajustados, a falta de chuvas pode impactar  bastante no chamado mercado livre de energia. Conhecido por oferecer  às  empresas que têm demanda contratada de 500 KW a oportunidade de comprar diretamente de geradoras e/ou comercializadoras a  energia  necessária à manutenção de grandes e pequenas indústrias,  os preços negociados dessa forma podem alcançar  valores estratosféricos. 

A previsão é do presidente da comercializadora de energia CMU,  Walter Fróes. Ele explicou que as empresas que já fizeram seus contratos, desde que não consumam energia em volume maior que o contratado, não devem sofrer  nenhum impacto com o aumento do custo de energia.

Mas, no entanto, as empresas  que consumirem mais energia do que o acordado com as empresas fornecedoras, devem pagar muito mais por este consumo excedente.

O motivo, conforme Fróes, é que , neste caso, eles deverão pagar a taxa conhecida como  Preço de Liquidação de  Diferença (PLD) correspondente  à diferença entre a energia consumida e a contratada.

Neste horizonte, quem planejou mal o consumo de energia necessário para a manutenção ou crescimento de seu negócio ou ainda não renovou seus contratos pode pagar preços estratosféricos pela energia.

Por estratosféricos, Fróes entende a possibilidade de se pagar mais do que o dobro cobrado hoje. “Pagar R$ 200 MW/h é um preço razoável pela compra de energia. Mas quem for renovar o contrato agora, se demorar muito, pode ser obrigado a desembolsar R$ 500 por MW/h dependendo da situação”, afirmou.

Já quem não está consumindo toda a energia contratada,  pode ganhar dinheiro com a venda da energia excedente acordada.“”Estes empresários podem ganhar dinheiro com isso”, afirmou.

Momento de espera

Para Fróes, se tiverem condições, os empresários  devem esperar um pouco para fazer novos contratos. Ele explicou que estudos feitos pelo setor demonstram a tendência de que o País não vá adotar o racionamento de energia como estratégia para enfrentar a crise hídrica. 

A tendência é que os preços se mantenham altos. Mas ele acredita que no mês de outubro, com o início da temporada de  chuvas,  os preços devem cair.

“Quem deixou para negociar os contratos  agora, ou está planejando  ampliar o consumo de energia, deveria  esperar mais um pouco, ou  vai pagar um valor mais alto”, aconselhou.

Energia fotovoltaica

A CMU, em parceria com a Solatio Energia, já oferece 3 mil MW de potência a 13  empresas. Essa parceria ainda deve resultar novos parques de produção de energia solar nas regiões Norte e Noroeste de Minas.  Além de ser uma das fontes mais baratas de energia,  não é poluente”, disse.

Planejamento

Ex-presidente da Eletrobras, Aloísio Vasconcellos não acredita que os preços fiquem tão altos quanto os previstos por Walter Fróes. 

Ele disse que as empresas produtoras, transmissoras e distribuidoras de energia ainda não reajustaram os preços. Mas  ele concorda que as empresas, que ainda não aderiram ao mercado livre de energia, com certeza sofrerão com o reajuste nos preços da energia comprada. 

Para Vasconcellos ,  se um gestor perceber que a  empresa   vai ter um aumento na produção em curto ou médio prazo,  será  melhor comprar a energia agora, antes que as distribuidoras aumentem os preços.

“Quem não está contratado terá a sua dificuldade  Não acredito que os preços  a duplicar. Mas há um ditado que ilustra o que estamos vivendo: Deus ajuda quem cedo madruga.” ressaltou. 

Presidente da Enecel,  Raimundo de Paula Batista Júnior concorda que a crise hídrica afetou o mercado de energia livre aumentando os preços. Ele tem pontos de vista muito próximos do  presidente da  CMU,  Walter Fróes, sobre a variação de preços do mercado. 

Segundo Batista, os compradores que contratassem energia no último mês de abril pagariam  cerca de R$180 MWh . Mas se forem  contratar a energia hoje, devem  pagar pelo menos 50% a mais pela mesma quantidade energética.

“E caso decidam fazer este investimento entre os meses de julho e setembro poderão  pagar preços  superiores a R$ 500 por MWh”, alertou.

Batista  explicou que as grandes empresas que demandam um alto consumo devem investir na contratação de consultores que possam fazer os cálculos do montante exato de energia que precisam adquirir  para evitar que  consumam mais do que o necessário. 

“Além da taxa de PLD (Preço de Liquidação de Diferença), quem consome mais do que o contratado também paga altas multas. Já quem consome menos, pode ganhar dinheiro com isso”, afirmou.

Variações

De acordo com Batista, a alta dos preços não está ligada apenas à crise hídrica. Ele explicou que os preços no mercado livre variam de acordo também com o nível de consumo de energia demandado pelos compradores. 

Ele explicou que, no ano passado, com a redução da produção industrial provocada pela pandemia,  sobrou energia no mercado livre. “Era possível pagar entre R$ 50 a R$ 60  por MWh. “Mas com o aumento da demanda e a crise hídrica, os preços aumentaram. E devem se manter alto durante parte de 2022”, avaliou.

Tendo completado 33 anos no último dia 22 de junho, a Enecel atua prestando consultoria e orientando aos pequenos, médios e grandes compradores (indústrias, shoppings, comércios) quando devem comprar e a melhor forma de aproveitar a energia que investem. 

“Temos muitos produtos que podem atender o mercado, mesmo neste momento de alta. Neste  mês, por exemplo, estamos garantindo aos novos investidores  uma redução de cerca de 20% no que eles estão acostumados a pagar no mercado cativo de energia”, afirmou.

Governo deve assumir a condução da crise hídrica e tomar atitudes firmes

Vasconcellos o governo tem que ser o indutor do processo e assumir a liderança nesse momento | Crédito: Alisson J. Silva/Arquivo DC

Embora o volume de água dos reservatórios estejam bem mais altos que os observados durante o apagão energético de 2001 e 2002,  para o ex-presidente da Eletrobras Aloísio Vasconcellos, é preciso que o governo aja com rapidez, assumindo o papel de liderança para evitar um desequilíbrio energético que agravaria a crise econômica vivida hoje pelo País.

“O governo tem que ser o indutor do processo. Assumir a liderança nesse momento, recorrendo aos especialistas. Não podemos ter pessoas sem um profundo conhecimento desse setor na condução desse momento de crise”, afirmou.

Para Vasconcellos, há equipamentos que  consomem menos energia,  e estratégias que podem ser adotadas. Ele defende a tese de que o Brasil possui vários centros de eficiência energética, em Itajubá, na PUC do Rio Grande do Sul e em Campina Grande. 

“É preciso procurar auxílio técnico de especialistas. Setor energético pode ser considerado uma vitamina para a indústria brasileira. Há estratégias como a troca de fornos industriais, e outras medidas firmes que podem ser implementadas. Mas o governo deve agir agora”, afirmou.

Privatização da Eletrobras é rejeitada por maioria do setor


A  aprovação pelo Congresso da MP 1.031/2021 que permite a privatização da Eletrobras deve ter impactos negativos e provocar aumentos das contas de energia elétrica em médio e longo prazo.

A opinião é consenso entre  Walter Fróes e Aloísio Vasconcellos.  Os dois acreditam que os chamados “jabutis”, artigos inseridos na MP, que fogem ao projeto inicial, devem provocar o  aumento  das contas de luz em médio e longo prazos. “Em até cinco anos, vamos sentir isso ”, afirmou o presidente da CMU, Walter Fróes.

Vasconcellos explica que alguns artigos criaram a necessidade, por exemplo, de construção de gasodutos que, segundo ele, não deveriam ser priorizados neste momento. 

“A ideia inicial era fazer com que o governo deixasse de ter o controle majoritário da empresa. Isso geraria recursos. Mas os recursos utilizados na construção desses gasodutos, por exemplo, devem ser repassados para a conta de luz”, explicou Vasconcellos.

Já o presidente da Enecel, Raimundo de Paula Batista Júnior, acredita que a privatização da Eletrobras será positiva. “Teremos mais oferta de energia. E menos influência política na empresa o que deve impactar na sua eficácia”, avaliou.

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