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Decisões erráticas do governo no setor elétrico

Autor:
Marcílio de Moraes -Estado de Minas

No início da semana, os reservatórios do Sistema Sudeste/Centro-Oeste, que respondem por cerca de 70% da capacidade de geração hídrica do país, estavam com 40,6

A decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de determinar a vigência da bandeira amarela nas contas de energia em novembro vai aliviar o bolso do consumidor ao converter a cobrança de R$ 7,87 a cada 100 quilowatts/hora (KWh) para R$ 1,885 a cada 100 KWh. A decisão sinaliza também que a situação dos reservatórios das hidrelétricas estaria mais segura do que parecia estar no início do mês, quando se chegou a cogitar a adoção do Horário de Verão. Na prática, o governo dá sinais contraditórios sobre como está gerindo os reservatórios das hidrelétricas.

No início da semana, os reservatórios do Sistema Sudeste/Centro-Oeste, que respondem por cerca de 70% da capacidade de geração hídrica do país, estavam com 40,63% de armazenamento, contra cerca de 60% no ano passado e 18% em 2021, ano da crise hídrica. Ou seja, a situação não é crítica, mas também não é de total conforto. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) prevê que a afluência nas hidrelétricas será maior em novembro e considera ainda que com a chegada das chuvas a temperatura mais amena reduz a pressão de demanda.

Essa, no entanto, é uma situação de momento, com as chuvas, que chegaram atrasadas, estando acima da média. Não há, contudo, nenhuma garantia de que as chuvas que efetivamente impactam os reservatórios, que ocorrem em dezembro e janeiro, serão acima da média. Para o diretor da CMU Energia Walter Fróes, “houve uma precipitação nessa mudança drástica da bandeira vermelha nível 2 para amarela. Nos últimos 40 dias não há nada que tenha mudado significativamente”. Ele confirma que não há como prever o volume de chuvas que vão ocorrer até o fim do período úmido, em abril.

Walter Fróes avalia ainda que o governo cogitou adotar o horário de verão, mas acabou recusando por temer uma perda de popularidade. “Acredito que essa medida de agora um pouco populista, de reduzir a tarifa junto com a chuva, sem pensar no futuro do suprimento de energia elétrica”. De acordo com o ONS o atendimento à demanda de potência no país está garantido para os próximos quatro anos, mesmo com a necessidade de acréscimo de 3 gigawatts (GW) por ano. Segundo a diretoria do ONS, há manobras que pode ser feitas para mitigar e atender aos requisitos da demanda.

Contribui para isso o fato de as chuvas reduzirem as temperaturas, o que leva a um menor acionamento de aparelhos de ar-condicionado e de ventiladores, que fizeram com que o pico do consumo saísse do período de 18h às 19h e passasse para o meio da tarde. Com a disponibilidade das usinas térmicas não há risco de desabastecimento, mas para isso a conta de energia será um item que vai pesar no bolso do consumidor no próximo ano.

O risco maior é sempre o de as chuvas ficarem abaixo da média e o período seco começar antes do previsto e se estender por mais tempo. Com isso, o ONS pode ser obrigado a acionar as usinas termelétricas fora da ordem do mérito, ou seja, aquelas que não estão no planejamento do ONS para gerar energia. Essas usinas têm um custo operacional muito mais alto, onerando o sistema elétrico.

Isso significa que será necessária a adoção da bandeira tarifária vermelha por mais meses em 2025. Mais do que pesar no bolso dos clientes, a energia mais cara vai pressionar a inflação e por consequência manter as taxas de juros elevadas. Para evitar que esse quadro ocorra, o governo tem à disposição agora apenas a expectativa de que o período chuvoso fique acima da média, para que os reservatórios cheguem ao fim do período chuvoso com mais de 60% de água para atravessar o período seco.

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