Para Walter Fróes, diretor da CMU Energia e ex-vice-presidente da Abraceel, ambiente hostil entre o ministério e a agência cria incerteza e insegurança
O diretor da CMU Energia e ex-vice-presidente da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia), Walter Fróes, disse ao Poder360, que os embates entre o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) já provocam ruídos no setor elétrico brasileiro. Para o especialista, os rumores de uma tentativa do governo intervir nas agências reguladoras via medida provisória ou projeto de lei irá resultar em uma fuga de investimentos no país.
Fróes declarou que o papel das agências reguladoras, como é o caso da Aneel, é assegurar a estabilidade de decisões regulatórias e previsibilidade investimentos nos setores regulados. Segundo Fróes, será uma “temeridade” se o governo federal tentar “capturar as agências”.
“Esse ambiente hostil entre o ministério e a Aneel gera muita incerteza e insegurança para os investidores colocarem recursos no país. Esse embate não contribui em nada para o progresso do país”, disse Fróes.
Na semana passada, Silveira disse a jornalistas que é favorável a dar poder ao Planalto para demitir diretores de agências. Na visão de Silveira, que é compartilhada por outras figuras do governo, não faz sentido o Planalto ser obrigado a ter que lidar com diretores indicados pelo presidente da gestão anterior.
Para Fróes, os mandatos dos diretores tem como função assegurar a estabilidade nas agências e não colocar o poder regulador à mercê de “políticas públicas de curto prazo”.
HORÁRIO DE VERÃO
Para Fróes, o regime especial não foi adotado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) porque o Planalto temia uma rejeição da parcela dos brasileiros que não gostam do horário de verão.
Na avaliação de Fróes, o Brasil deve voltar a adotar o horário de verão para balancear o “buraco de potência” que as fontes renováveis deixam no sistema. O especialista disse que o Brasil tem precisa acionar térmicas para compensar um espaço de 2 horas deixado pela energia solar e a eólica. A lógica é que a partir das 17h, as usinas solares deixam de produzir energia, enquanto as turbinas eólicas produzem mais energia à partir das 19h.
“A volta neste ano seria muito razoável para cobrir esse gap da energia solar e eólica. Acho que foi uma decisão política porque o horário de verão é um caso de amor e ódio entre as pessoas. Foi um receio com o impacto popular dessa medida“, declarou.
EÓLICAS OFFSHORE
Na avaliação de Fróes, o projeto que cria o marco regulatório para usinas de eólicas offshore –torres de produção de energia eólica no mar– é equivocado. O texto, que está em análise no Senado, estimula um método de produção de energia mais cara e desnecessária para o país no momento.
Para Fróes, o Brasil deve esgotar seu potencial para eólicas onshore –em terra– antes de partir para o mar. Como mostrou o Poder360, o investimento para construção de uma torre eólica no mar é até 3,5 vezes o custo de uma torre em terra. Além disso, o custo com as linhas de transmissão pode ser até 10 vezes maior.
A sugestão do diretor da CMU Energia é que o Brasil aposte em projetos pequenos para desenvolver a tecnologia, como por exemplo a instalação das torres em plataformas de petróleo para abastecer a embarcação.
“O volume de energia previsto no PL das eólicas offshore é uma barbaridade, tendo em vista que o capex para construir uma usina eólica offshore é 3 vezes superior ao de uma usina onshore. A brincadeira no setor é que eólica offshore é boa onde não tem shore, e o Brasil tem muito chão para construir usinas em terra“, disse Fróes.
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