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Reduzir pegada de carbono passa a ser estratégico

Felipe Bittencourt, diretor da Way Carbon: alta de 70% na receita

Marinete Veloso / Valor (27/03/2020)

Incluir em seus planos estratégicos projetos capazes de reduzir ou compensar as emissões de carbono na atmosfera tornou-se, para as organizações, uma exigência de mercado, sem caminho de volta. “Cada vez mais instituições financeiras e fundos de investimentos cobram boas práticas de sustentabilidade para financiar empreendimentos e empresas”, diz Maurício Bähr, CEO da Engie Brasil.

A vocação da CDP, por exemplo, ONG internacional formada por um grupo de investidores, é organizar e administrar um banco de dados ambientais coletados de empresas, cuja finalidade é nortear a tomada de decisão de investimentos. “Hoje são 525 investidores signatários, com US$ 96 trilhões em ativos sob gestão e um portfólio de pesquisa de oito mil organizações no mundo”, informa Lauro Marins, diretor executivo da CDP para a América Latina. Segundo ele, outro vetor que revela a importância do tema são os índices de carbono já incorporados às Bolsas de Valores. “Empresas que têm bom desempenho ambiental, performam melhor na Bolsa”, avalia.

Para o professor Leonardo Marques, da Coppead-UFRJ, o Brasil registrou grandes avanços nos últimos dez anos, mas as iniciativas ainda se inserem no âmbito voluntário, por pressão do mercado, diferentemente do que acontece em alguns países vizinhos, como Argentina, Chile, Colômbia e México, que já operam com precificação. “Na Argentina, todo combustível vendido traz um imposto extra embutido. Quanto maior a intensidade de carbono, maior a taxa.”

Empresas com projetos sustentáveis ouvidas pelo Valor são unânimes em reconhecer a urgência dessa pauta. A Votorantim Cimentos atua em várias frentes e a principal delas é a de substituir o coque de petróleo, principal componente na fabricação do cimento, por combustíveis alternativos como caroço de açaí, babaçu e lixo urbano. Com isso, nos 11 países onde atua, conseguiu reduzir 18,6% de CO2 por tonelada de cimento produzido, de 1990 a 2018, como informa Fábio Cirilo, consultor de ecoeficiência da empresa.

A Sunew investiu mais de R$ 100 milhões, nos últimos 10 anos, para oferecer ao mercado o filme fotovoltaico OPV, painel solar orgânico, cuja característica é a baixa demanda energética. “Temos a mais baixa pegada de carbono, de 10 a 20 vezes menor do que as tecnologias solares tradicionais”, diz o CEO, Tiago Alves. Segundo ele, por sua capacidade de produção de 600.000 m2 por ano, a empresa detém mais de 80% de participação de mercado no mundo.

Maurício Salla, executivo da Crowe, que atua na indústria de energia, informa que a empresa alocou em pesquisa US$ 500 mil neste ano, para lançar, no segundo semestre, soluções que possibilitam às organizações redução de Gases de Efeito Estufa (GEE).

A Vestas, produtora de turbinas eólicas, pretende reduzir a pegada de carbono da empresa em 55% até 2025 e a de seus fornecedores em 45% até 2030, segundo Rogério Zampronha, presidente da companhia.

Empresas de consultoria também registram demanda maior na área ambiental. Roberto Gonzalez, consultor da iBlue Zone, destaca que as preocupações ambientais já chegaram ao cidadão comum. Ele cita o exemplo dos caminhoneiros que estão instalando placas solares em seus veículos; com isso, aumentam a vida útil da bateria e podem utilizar por mais tempo o climatizador sem precisar ligar o veículo.

Soluções para integração da sustentabilidade nas corporações foram responsáveis por elevar em 70% o faturamento da Way Carbon nos últimos três anos, segundo seu diretor de negócios Felipe Bittencourt.

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