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Situação é a pior desde 2001, e ONS admite reduzir consumo

O nível dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste – que concentra 70% da capacidade de armazenamento do país – bateu novo recorde negativo. Anteontem, os reservatórios estavam com 37,6% da capacidade, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O volume só não é menor do que o registrado em 2001: no ano do racionamento, os reservatórios estavam com 33,4%. Desde 2002, o nível observado em fevereiro superava os 50%.

Com pouca água armazenada, o preço da energia disparou e, tecnicamente, o Sul e o Sudeste já precisariam reduzir o consumo em 5%. Essa necessidade foi identificada por um modelo computacional e matemático, expresso no valor necessário para produzir a energia. Esse indicador se chama Custo Marginal da Operação e atingiu R$ 1.691,39 o MWh nas regiões Sudeste e Sul segundo o documento Sumário Executivo do Programa Mensal de Operação, divulgado ontem pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). Trata-se de uma alta de quase 60% em apenas uma semana. No relatório anterior, o custo foi de R$ 1.065,74.
Essa alta não se refletiu no mercado livre, onde o MWh continua sendo vendido a R$ 822,83, o teto definido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mas vai pesar no bolso do cidadão. “Vamos pagar de um jeito ou de outro, como consumidores ou como contribuintes”, diz o diretor-geral da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes.
Ele explica que o aumento ou será repassado nos reajustes das contas de energia (o da Cemig acontece em abril). Caso o governo resolva aliviar essa conta, com um subsídio ao setor, por exemplo, o cidadão vai pagar porque o dinheiro sairá dos cofres públicos.
Racionamento. Mesmo com os reservatórios em níveis menores do que em 2001, especialistas acreditam que a hipótese de um racionamento de energia é pequena. Isso porque, naquela época, o país não contava com as usinas térmicas, que hoje garantem 17% da energia consumida, mesmo com o custo maior do que o das hidrelétricas.
Especialista sugere campanha educativa para reduzir gastos
Diante do baixo nível dos reservatórios, o governo deveria fazer uma campanha para estimular a redução no consumo. Para especialistas do setor de energia, a melhor alternativa nesse momento seria a transparência.
“O governo deveria ter a humildade diante do risco de desabastecimento, que é real, explicar para a população o que está acontecendo e pedir ajudar: falar para as pessoas economizarem energia”, diz um especialista do setor que pediu para não ser identificado.
Walter Fróes, da CMU Comercializadora de Energia, concorda que deveria haver uma campanha educativa, mas considera que dificilmente a iniciativa se concretizará, sobretudo por ser um ano eleitoral. “O racionamento de 2001 foi muito usado politicamente e este assunto tornou-se tabu”, avalia.

Vazias, mas ligadas

Entre janeiro e fevereiro, deixou de chegar aos reservatórios das usinas hidrelétricas do Sudeste uma quantidade de energia equivalente à que entrou em agosto, setembro e outubro do ano passado. É como se esses reservatórios, em apenas 40 dias, tivessem passado um período de três meses sem receber água. Em janeiro de 2013, a Energia Natural Afluente (ENA) na região, que nada mais é do que a quantidade de energia que pode ser produzida conforme o regime de chuvas, foi de 45.513 megawatts médios (MWm). Um ano depois, esse volume caiu para 29.403 MWm, o que significa que o potencial de produção encolheu em 35,4%. Entre  1º e 9 de fevereiro do ano passado, a ENA estava em 55.200 MWm. Em igual período de 2014, o indicador ficou em 19.710 MWm, uma queda de 35,7%. 
De acordo com Flávio Neiva, presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), a demanda média de energia no Sudeste em janeiro foi de 66.821 MWm contra 59.800 MWm em janeiro do ano passado. O aumento de 7.021 MWm nos gastos é quase o dobro da energia firme que será oferecida em Belo Monte (4.300 MW). Entre um janeiro e outro, a demanda no pico também cresceu de forma assustadora – de 71.890 MW para 85.708 MW (19%). 
Ao contrário do que se pode imaginar, todo esse aumento de consumo vem sendo bancado pelas usinas hidrelétricas, que estão trabalhando a toda a carga, e não pelas térmicas. Em janeiro do ano passado, elas geraram 36.635 MWm. Em igual mês de 2014 foram 44.231 MWm. A diferença é de 7.596 MWm, volume que é praticamente igual a toda a energia firme que sai de Itaipu Binacional (8.540 MW). “Enquanto isso, estamos gerando o máximo das térmelétricas, já que não houve expansão desse parque de usinas conforme o previsto. Em 2013 entraram 3.200 MWm em térmicas”, aponta Neiva.
Para os especialistas, a situação é fruto da conjunção de três fatores: a edição da MP 579, que sinalizou para os consumidores que eles poderiam aumentar o consumo de energia, a forte onda de altas temperaturas no país e o crescimento vegetativo da população brasileira. “Sem a MP 579 e sem o calor, a demanda cresceria 4% e não os 12% registrados”, resume o presidente da Abrage. Por causa desses fatores, o ponto mais alto do consumo, que tradicionalmente ocorria a partir das 18h, agora começa às 15h. 
Preocupação A queda vertiginosa na energia natural afluente preocupa . “É como se os shoppings não vendessem no Natal”, compara Flávio Neiva. Os números do Operador Nacional do Sistema Elétrico mostram que o consumo no pico foi de 78.032 ao longo de 2013, mas a partir de dezembro começou a bater recorde atrás de recorde até chegar aos 85.708 MW apurados em 4 de fevereiro de 2014. Para Walter Froes, diretor da CMU Energia, o governo reduziu o preço do insumo na hora errada. “Além disso, um ar-condicionado pode ser adquirido em várias prestações”, observa. Ele lembra que o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) está em seu teto máximo (R$ 822) pela segunda semana consecutiva. Até aqui, o maior preço para a energia comercializada no mercado de curto prazo foi de R$ 570, em janeiro de 2008. 
“O país passa por um problema de geração de energia. Os reservatórios estão baixando e pode não chover, ou as chuvas podem continuar fracas. Os reservatórios estão baixando também porque o calor evapora a água. Isso quer dizer que a água que entra está diminuindo e a que sai (para gerar energia) está aumentando. As térmicas estão no máximo. A situação é preocupante”, diz João Camilo Pena, ex-presidente da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), ex-presidente de Furnas e ex-ministro da Indústria e Comércio. 
Analistas do setor estimam que pelo menos R$ 8 bilhões anuais gastos com termelétricas — acionadas para compensar o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas — poderiam estar sendo poupados caso houvesse uma campanha nacional de conservação de energia. Além disso, o risco cada vez maior de racionamento seria totalmente afastado caso os consumidores ajudassem com uma singela economia média de 5%. “Se em fevereiro não chover, vamos ter dificuldades sérias em março e abril. Esta é a hora de o governo chamar a população para consumir menos energia”, avisa Penna.
 
Apelo por economia na mesa
 
Apesar dos riscos e do crescente custo da eletricidade, prevalece o receio da presidente Dilma Rousseff de esvaziamento do seu discurso político, caso um pedido de cooperação do público seja associado ao plano de racionamento de 2001, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. “Essa será uma decisão difícil de ser tomada. Se o governo admitir uma situação como essa, desencadeará uma sensação de insegurança muito grande”, afirma Flávio Neiva, presidente da Associação Brasileiras das Empresas Geradoras de Energia. Segundo ele, ainda não é hora de fazer esse anúncio. Mas a situação pode mudar se as coisas não melhorarem nos próximos 10 dias. 
“Sairia bem mais barato para a população e para o próprio governo reconhecer que a saída mais óbvia está num ajuste espontâneo da demanda”, afirmou ao Estado de Minas o dirigente de outra entidade do setor elétrico. O Sumário Executivo do Programa Mensal de Operação, divulgado sexta-feira pelo ONS, mostrou uma alta de quase 60% em só uma semana no valor de custo do megawatt-hora no Sul e Sudeste, saltando de de R$ 1.065,74 para R$ 1.691,39. O texto admite que há necessidade de racionamento, mas descarta a adoção de cortes, em razão de uma perspectiva de chuvas nas próximas semanas e de um arrefecimento da onda de calor. Dados divulgados pelo ONS mostram que o volume de água armazenado nas duas regiões na quinta-feira representava só 37,6% da capacidade total, abaixo do nível de 2001, ano do racionamento.
Para o consultor João Carlos Mello, da Thymus Energia, o governo precisaria o quanto antes “abrir o jogo” e encarar a urgência da “mais salutar das medidas”. “Embora estejamos em ano eleitoral, de nada adianta esconder a realidade. A natureza não tem ajudado e a falta de chuvas trouxe, sim, um quadro preocupante”, acrescentou. (SR e ZF).