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No mercado livre, valor dos contratos quase triplica e desestimula negócios

Não só as empresas que estão correndo para comprar energia no mercado de curto prazo (spot) foram atingidas pelo preço recorde da eletricidade em vigência desde sexta-feira. Indústrias que buscam contratos de longo prazo no mercado livre também estão desnorteadas com a alta de preços. Em janeiro ou fevereiro de 2013, fechavam-se contratos para fornecimento no restante do ano por R$ 130 o megawatt-hora. Hoje, esse mesmo tipo de negociação envolve valores perto de R$ 350, segundo fontes do mercado.
“Os valores quase triplicaram”, lamenta Walter Fróes, presidente da comercializadora mineira de energia CMU. Ele acredita que nem as geradoras, potenciais beneficiadas com os preços mais altos, estão satisfeitas. “Isso é ruim para todo mundo. Um dos bons negócios para a gente é captar clientes novos. E esse movimento cessa com valores tão elevados, mesmo que sejam conjunturais e momentâneos”, completa Fróes.
“O que temos recomendado aos nossos associados é sentar e aguardar”, diz Carlos Faria, presidente da Anace, uma das entidades que representa consumidores livres da indústria e do comércio de grande porte. De acordo com ele, há influência dos preços no “spot” – que alcançaram o teto de R$ 822 por MWh estipulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – nos contratos mais longos. Mais de 65% de toda a energia comprada e vendida no mercado livre está amparada em contratos com pelo menos 12 meses de duração.
Faria avalia que o momento atual é de evitar negociações para renovar contratos de fornecimento. “Não teremos nenhuma recuperação relevante dos reservatórios nas próximas quatro ou cinco semanas”, diz o executivo.
Walfrido Ávila, presidente da comercializadora paranaense Tradener, reitera que é um erro deixar a renovação para a reta final dos contratos em vigência e sugere cuidar do assunto com pelo menos seis meses de antecedência. Para quem está perto do vencimento de contratos, o momento é complicado. “O mercado está com menos liquidez.”
Algumas geradoras têm preferido segurar energia e vender no “spot” em vez de se comprometer com contratos de duração mais longa. Outras ficaram com menos “sobras” por causa da redução do estoque de água em seus reservatórios. Com tudo somado, houve um enxugamento da oferta disponível aos consumidores.
Um levantamento da Anace indica que a estatal Chesf vendeu 4,8 mil MW médios, em 2012, no mercado livre. A situação se inverteu no ano passado e, mesmo sendo uma das grandes empresas geradoras do país, ela acabou comprando 525 MW médios.
Um dos motivos para explicar essa aparente contradição é a MP 579, medida provisória que permitiu a prorrogação das concessões de usinas hidrelétricas e reduziu as contas de luz, no fim de 2012. Houve uma mudança crucial para todas as geradoras que aderiram ao plano e garantiram a prorrogação de suas concessões. Elas passaram a destinar obrigatoriamente toda a energia mais barata – já amortizada – ao mercado cativo, que são as distribuidoras e seus clientes.
Com isso, as tarifas residenciais e das poucas indústrias que são atendidas pelas distribuidoras puderam cair mais. O mercado livre, no entanto, ficou sem os “blocos” de energia já amortizada. Até hoje a medida não foi digerida pelos grandes consumidores. A Anace entrou com uma ação na Justiça Federal, em Brasília, pedindo um rateio da eletricidade mais barata entre todos os consumidores. Houve uma audiência preliminar com o juiz responsável e foram solicitados esclarecimentos adicionais. A expectativa de Faria é que saia uma decisão de primeira instância ainda no primeiro semestre.
O executivo diz ainda que indústrias têm se empenhado em reduzir o consumo para dar uma “colaboração” ao sistema e aproveitar os preços recordes para vender sobras no mercado spot.

Calor e seca sobrecarregam sistema, e apagão pode voltar

O que causou o apagão mais recente do país, que atingiu 13 Estados e 6 milhões de consumidores por ao menos 40 minutos? A pergunta que não cala desde anteontem só vai ser respondida pelo governo federal hoje, como prometeu o presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, que iria se reunir com outros representantes do setor elétrico para entender o que causou os curto-circuitos em duas linhas de transmissão.Apesar de não dar os motivos, o governo já negou que a falha tenha sido causada por falta de investimentos, pela falta atípica de chuva, que deixa os reservatórios a níveis baixos, ou mesmo pelo grande consumo de energia, com calor recorde.Apesar das negativas, especialistas em setor dizem que justamente esses três fatores sobrecarregaram o sistema elétrico. “E, quando as linhas operam no limite, qualquer perturbação pequena tem grande repercussão”, resume Walter Fróes, presidente da comercializadora de energia CMU. Entre as perturbações pequenas pode estar, por exemplo, queda de raio – hipótese levantada para o curto-circuito de anteontem.Dados do próprio ONS sustentam que houve sobrecarga: às 14h de terça-feira – a apenas três minutos do início do apagão, portanto –, a região Sul bateu recorde de demanda de carga de energia, atingindo 17.412 megawatts (MW). Na véspera, o subsistema Sudeste/Centro-Oeste também teve pico, de 50.854 MW, e todo o Sistema Integrado Nacional teve recorde de 84.331 MW. Em todo o mês de janeiro, o consumo de energia no país subiu 11,8% em relação a janeiro de 2013 e 7,2% ante dezembro.Além de estar calor demais – o que leva as pessoas a usarem mais ar-condicionado, ventilador e outros eletrodomésticos –, está chovendo de menos no Sul e Sudeste, o que força a transmissão de energia vinda do Norte, onde os reservatórios ainda estão cheios. “Em vez de haver ganho de nível nos reservatórios entre 31/12 e 31/1, houve perda”, diz o economista especializado em energia Mikio Kawai Jr, que é diretor executivo da Safira Energia.O sistema Sudeste/Centro-Oeste está com 39,58% da capacidade de armazenamento e não há previsão de chuva nas principais bacias pelos próximos dez dias. Assim, pode recuar para 38% no fim deste mês. E as térmicas que existem já estão ligadas. A tendência, portanto, é que o problema piore. “Vai ser recorrente, com este calor acima da média”, diz Kawai.O único jeito de evitar a repetição de apagões é planejar reservatórios maiores e construção de mais térmicas, diz Kawai. “Se alguma obra prevista para este ano não entrar em operação, a situação pode piorar”, diz o diretor da Thymos Energia, Ricardo Savoya. No entanto, usinas e linhas de transmissão que já deveriam entrar em operação estão atrasadas.