Especialistas divergem sobre os impactos, mas efeito é sentido no ambiente livre
Devido às altas temperaturas, o consumo de energia elétrica no Brasil bateu recordes nesta semana, conforme o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Com o aumento da demanda, o órgão prevê a necessidade de acionar termelétricas até dezembro para reforçar o atendimento. O preço no mercado livre já subiu de forma significativa nos contratos de curto prazo. Porém, especialistas consultados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO ainda divergem sobre os impactos da onda de calor no mercado de energia do País, sobretudo, em relação ao custo.
Para o diretor da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes, o período de calor intenso que atinge o território brasileiro afeta diretamente os valores e isso, inclusive, já está ocorrendo. Ele diz que o preço de liquidação das diferenças (PLD), usado como referência para negociar energia no ambiente livre, subiu substancialmente, após ficar um tempo no nível mínimo, de R$ 69,04 megawatts/hora, afetando o mercado de curto prazo e, possivelmente, refletindo a longo prazo.
Conforme Fróes, a previsão do PLD médio dessa quinta-feira (16) era de R$ 182,06 MWh. “Isso mostra que, apesar, de termos tido dois ótimos verões, com reservatórios cheios, nosso consumo está quebrando recorde atrás de recorde. Então, teve uma ilusão de que teríamos energia barata nos próximos anos. Isso é uma falácia. Alguns consumidores que achavam que o PLD ficaria no piso a vida inteira, já estão tendo uma surpresa desagradável, tendo que comprá-lo a R$ 182.”
O diretor da CMU também afirma que está prestes a acontecer, ainda que não seja possível estimar uma data exata, a volta das cobranças extras na conta de luz, que começam nas bandeiras amarelas (com acréscimo de R$ 0,01874 para cada quilowatt-hora consumidos), passando pela vermelha 1 (R$ 0,03971 por kWh) e vermelha 2 (R$ 0,09492 por kWh). Desde abril do ano passado, a bandeira verde, que não cobra adicionais na tarifa do consumidor, incide no País.
Impacto irrisório
Na avaliação do diretor-presidente da Enecel Energia, Raimundo de Paula Batista Neto, com a população utilizando mais ar condicionado para tentar se refrescar nesse calor, o que provoca o acionamento de usinas térmicas para atender a alta na demanda, o preço diário da energia sofre impactos. Consequentemente, o preço médio mensal também terá mudanças, porém, não tão expressivas, segundo ele. Sendo assim, o consumidor final quase não sentirá os efeitos.
“Tem um impacto no preço médio mensal, mas não é nada espetacular. O valor pode chegar a R$ 300 ou até mais, em termos de negócio-hora, o que seria bem expressivo, mas na média do mês acaba aumentando cerca de R$ 10, R$ 15 no máximo”, afirmou. “Do ponto de vista do consumidor, isso vai ser repassado na tarifa, mas com um impacto muito menor”, completou.
Sobre uma possível volta da bandeira vermelha com um aumento do consumo, em função das altas temperaturas, Batista Neto enfatiza que isso dependerá do comportamento dos reservatórios. Como o ano hidrológico começou em outubro, ele salienta que ainda não dá para dizer se haverá esse retorno, no entanto, afirma que tudo indica que não. Apesar disso, o diretor-presidente da Enecel ressalta que as tarifas estão sujeitas a efeitos futuros, que hoje não podem ser visualizados.
Sem chance de aumento
Com uma visão distinta dos demais, o engenheiro e ex-diretor da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e da Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobras), Aloísio Vasconcelos, não enxerga, do ponto de vista comercial, qualquer chance de elevação nos preços da energia, em virtude da onda de calor. Dessa forma, também não vê precisão para cobranças adicionais.
“Os reservatórios estão bem abastecidos”, destaca Vasconcelos. “O volume de chuva foi razoável, é claro que no segundo semestre o nível nas barragens cai um pouco, mas eu diria que é absolutamente tranquilo, não há nenhuma necessidade de se pensar em bandeira vermelha, padrão de energia mais cara, muito menos emergencial”, complementou, ressaltando que ocorrerá somente o que é comum, a recomposição tarifária anual de empresas que tem esse direito.
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