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Bandeira amarela sinaliza temporada de energia cara

Autor:
Marcílio de Moraes- Estado de Minas

O acionamento foi feito depois de 26 meses de bandeira verde e mesmo com os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste com 67,03% de armazenamento no fim de junho

Para Walter Fróes, da CMU Comercializadora, a decisão de acionar a bandeira amarela foi acertada

Os impactos das mudanças climáticas são perceptíveis para a imensa maioria dos brasileiros, mas elas não estão apenas nos grandes eventos, como chuvas intensas, elevação da temperatura e secas sem precedentes e são sentidas também no bolso dos consumidores. Com a afluência baixa nos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste, Norte e Nordeste – maio teve o pior desempenho da história –, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou para julho a bandeira amarela sobre as contas de luz, com a cobrança adicional de R$ 1,88 a cada 100 KW/h consumido. O acionamento foi feito depois de 26 meses de bandeira verde e mesmo com os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste com 67,03% de armazenamento no fim de junho. A região responde por cerca de 70% da capacidade de geração hídrica do país.

“Nós tivemos dois verões (período chuvoso) excepcionais, mas também o pior maio com o pior desempenho da história hidrológica do Brasil”, afirma o diretor da CMU Comercializadora de Energia, acrescentando que as fortes chuvas no Sul do país, que elevaram o nível dos reservatórios na região para 87,28%, não mudam significativamente o cenário pelo fato de o subsistema representa apenas 7% da capacidade de geração de energia hidrelétrica. “A afluência prevista para este ano está boa, então o Operador Nacional do Sistema (ONS) tomou a medida preventiva, razoável, de manter (água nos reservatórios)”.

Pra Fróes, mesmo com uma maior participação do mercado livre de energia no suprimento da demanda do país – onde as fontes são renováveis sem a incidência das bandeiras –, a medida da Aneel favorece a preservação de água nos reservatórios das hidrelétricas, mas ele alerta que esse quadro pode se alterar. Hoje, o Mercado Livre de Energia, segundo Fróes, responde por cerca de 38% de toda a carga do país, com a possibilidade desse percentual crescer nos próximos anos e passar de 40%. Com isso, menos consumidores do mercado cativo (das concessionárias) serão pressionados em situações de crise.

“Com o La Niña se formando em agosto, a tendência é de período seco mais prolongado e atraso na retomada do período úmido na primavera”, diz Ana Clara Marques, meteorologista e especialista em clima para o setor elétrico. Esse quadro, lembra ela, se agrava com o aumento do consumo de energia no inverno, por causa das temperaturas mais elevadas do que o normal. A previsão do ONS para este mês é de aumento de 4,5% no consumo de energia no país, este mês. Walter Fróes chama a atenção para o atraso do início do período chuvoso, o que pode afetar a condição dos reservatórios e levar ao acionamento da bandeira vermelha patamar 1, indicando a necessidade de acionar termelétricas.

“Na quinta-feira passada, considerando uma medição hora a hora, houve perda de geração eólica e solar e o operador teve que acionar usinas térmicas e por uma hora e meia o custo foi recorde de R$ 1.400 por MWh”, revela o diretor da CMU Comercializadora de Energia. Isso ocorre em função da segurança do sistema e tem um custo para as distribuidoras de energia, que futuramente será repassado para os consumidores. Outro gargalo é o fato de haver redução de clientes no mercado regulado, o que diminui a faixa da população que arca com os custos das térmicas. O pico de preço, segundo Fróes, foi gerado pela demora na entrada da energia gerada pelas eólicas, o que obrigou o ONS a acionar térmicas. A temporada agora é de energia cara.

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